Wednesday, March 5, 2008

Os dias 11 e 12 de Fevereiro de 2008

Dia 11 de Fevereiro de 2008

Bali
O telefone do quarto toca no momento em que tiro as últimas camisas do roupeiro em direcção à mala. Será da recepção dizendo que estou atrasada para fazer o check out e chegar a tempo ao aeroporto.
“-Hello!”
“- Hello!”
“- Ah, olá!”
“Ramos Horta foi baleado no estômago e o guarda costas morto.. não consigo fazer telefonemas para Dili, a linha internacional foi suspensa.”
“ Em que estado está Ramos Horta? Foi evacuado? E o ambiente em Dili?
“ Não foi grave, mas acho que talvez devêssemos esperar até amanhã para ver a evolução da situação...”
Mentalmente penso que não posso esperar, tenho que ir, ver como estão meus amigos! Vou ligar já a seguir a mana Cata... De facto as linhas não funcionam. Ligo ao José para lhe dar conta que estou em Bali e que voo em duas horas para Dili.
Termino rapidamente a minha mala e sigo para o aeroporto. Só penso em contactar mana Cata.
Sentada no coffee shop do aeroporto, peço mais um café e ouço as notícias que passam na CNN. Surge a notícia do atentado contra o Presidente e eu peço para aumentarem o som da televisão. Várias figuras de estado vão dando entrevistas via telefone. Vão surgindo mais passageiros que seguindo também para Timor estão atentos às notícias. O silêncio instala-se com as respostas de Zacarias da Costa ao pivot da CNN. Não obstante o tiro contra o presidente, o assassinato do seu guarda costas, a ainda não confirmada morte do Major Reinado e o atentado contra o Primeiro-Ministro, Dili está calma.

Dili
Chego a Dili tendo vivido o pior voo da minha vida. Sinto-me agitada enquanto aguardo a mala. Mana Cata vem a caminho e eu começo a fazer os telefonemas a informar que cheguei. Á saída do aeroporto vejo mana Cata ao longe. Abraçamo-nos fortemente e com o tempo necessário para apreciarmos o forte abraço de saudade e do meu regresso. Atropelamo-nos nas palavras e decidimos despachar eventuais amigos que pretendem a nossa companhia. Há muito para contar... urge saber o que se passou em Dili e quais as informações e boatos que correm sobre a evolução do estado de segurança do país. Decidimos almoçar na Avenida da Marginal onde se encontram as embaixadas. Sentamos de frente para a Avenida com o mar no nosso horizonte. Mana Cata começa a contar todos os acontecimentos de que tem conhecimento. Os tanques das tropas australianas circulam na avenida chamando a nossa atenção pelo barulho infernal que fazem. E agora? Que irá acontecer?
A nossa embaixada emite inexplicavelmente tarde um alerta dos acontecimentos e aconselha a minimizar a circulação ao essencial. Sabemos que não podemos contar com a nossa embaixada para estarmos devidamente informados dos perigos que surgem. O que vale é networking com as ONG’s e amigos de outras nacionalidades.

De Portugal chegam sms e telefonemas. Mas tudo de momento está tranquilo, nada a registar. Inside information diz-nos que vai ser emitido um comunicado anunciando o recolher obrigatório, estando ainda a ser discutido o período. Vamo-nos abastecer de água e alguns enlatados.
È finalmente anunciado o recolher obrigatório por 48 horas entre as 20 horas e as 6 horas. Agendamos os nossos afazeres por forma a que se respeite o recolher obrigatório. O impulso que mana Cata e eu temos em desafiar ... não existe desta vez.

Dia 12 de Fevereiro de 08

Acordo com o toque de mensagem no telemóvel. Catarina convida-me para tomar o pequeno almoço no City café. Quinze minutos é o tempo suficiente para me arranjar. Quais serão as novidades da manhã? Haverá alguma? José liga-me pouco depois a perguntar a situação no país. “- Não sei! Acabo de acordar... “ estou ainda zonza de sono. Preciso de café rapidamente para que os meus neurónios espevitem. A noite foi agitada, um sono muito leve sempre atenta a todos os sons que viessem da Rua. Dudi, vizinho do Presidente, tinha acordado na manhã anterior ao som de rajadas de tiros. A caminho do café olhei atentamente para a rua e para as pessoas. O ambiente está calmo. Desconheço o que isso significa...
Acompanhada pela mana Cata e mais outro amigo elaboramos, como todos, as possíveis teorias para os acontecimentos!

2 comments:

Anonymous said...

Que episódios, amiga!!Ainda nem parece verdade que tu estás mesmo por aí, no centro das agitações...Fico preocupado, embora denote uma grande energia e envolvimento da tua parte, apesar das adversidades...Aguardo regressos para um forte abraço de saudades. RAL

Anonymous said...

You write very well.