Sunday, October 28, 2007

A primeira semana...

Chega ao fim a primeira semana em Timor. A intensidade dos acontecimentos não me permitiram sentir falta, não me permitiram pensar o quão estranho me é este país. As pessoas são pessoas em qualquer parte do mundo, e movidas pela solidariedade tornam-se solicitas e prestáveis para com quem chega. Entre inúmeras festas conheço muitos malae que por aqui vão estando. A primeira festa de aniversário, a primeira lua cheia, a primeira aula de yoga, a primeira aula de aeróbica, as apresentações espontâneas e os convites para jantar. Os primeiros telefonemas com convites ou apenas olá... E tudo isso me faz sentir bem vinda. Penso já nos móveis com que decorarei a casa e o jardim. Muito fica por contar pois estaria a identificar pessoas e situações, mas com certeza tudo o que ouvi me fará aprender a viver num novo país.
Escuto atentamente as conversas, ávida por aprender o possível sobre a minha nova casa. Há, parece-me, um denominador comum em todas estas pessoas, a vontade de participar na construção, a utilidade do que são e do que podem fazer em prol de uma sociedade melhor.

Momentos mais marcantes entre os outros inenarráveis

A primeira aula de aerobica.
Por entre os quase escombros de um edifício pertencentes a um clube local reuniram-se meia dúzia de pessoas, com a comum vontade de praticar desporto e se manterem em forma. Entre paredes chamuscadas e a lua a iluminar o recinto, a diversão foi total. Não faltou a música e os alteres para exercitarmos animadamente os músculos. Nenhuma fotografia poderia reproduzir o que se sente num local assim. Aí percebi que a vontade poderá sempre superar eventuais impossibilidades a que nos habituou o Ocidente em paz. E deitados em toalhas sobre um chão muito sujo fizemos os nossos exercícios e lá em cima a lua cheia sorridente não nos fez esmorecer, pelo menos a alguns...

A primeira saída noturna.
Fui advertida que poderia sentir-me intimidada... senti-me uma personagem num filme americano. Entrei numa das discotecas cá do sítio, sim há efectivamente discotecas, e imediatamente as cabeças dos quantos militares off duty se viraram, a altura dos homens e a sua estrutura física são impressionantes, para quem como eu mede o seu metro e meio. E alguém me dizia, uma mulher, que tendo dançado com um tinha sentido que o mesmo indivíduo estava armado. O seu pensamento, bastante sensato, de resto, era, e se estes homens já alcoolizados se aborrecem com alguma situação??Esperamos sempre pelo melhor. Passei a noite a observar atentamente todos à minha volta. Fui encontrando alguma caras conhecidas com quem fui falando e me informando acerca de uma ou outra coisa. Já tenho indicação onde aprender tetum. Tentarei fazê-lo o quanto antes. Para mim é essencial.

De volta a casa, ou melhor ao quarto de hotel, deparamo-nos com um acidente. Deitados no chão jazem dois timorenses motociclistas abalroados por alguém. Saímos do jipe e a rapariga com quem estou que tem curso de socorros a funções vitais (se apreendi bem o nome) verifica que o primeiro está morto e ao se aproximar do segundo os quantos que já se encontravam no local gesticularam e falando em tetum dizem também estar morto.
Rapidamente chegam as ambulâncias e a GNR que se encontra cá em missão. Cumprida a função social de auxílio vamos embora. Aprendi no dia seguinte a propósito deste acontecimento que se alguma vez atropelar alguém à noite não devo parar, ligo para o 112 a informar do acidente e sigo para o posto da polícia próximo onde me apresento e relato o acontecido, deverei voltar ao local apenas acompanhada por eles. Questionando se tal comportamento não se afigura incorrecto para com a população, descobri com a resposta que esta seria a via para que a minha segurança não fosse colocada em risco. A população poderá reagir contra os malae nestes casos.
E não obstante a confusão que isso me causa percebo ser a via a tomar.

Primeiro dia de praia.
As praias variam entre areia branca e areia escura (não será preta, mais parece avermelhada, não sei precisar), denominador comum das praias próximas de dili – existem detritos, garrafas de vidro, plásticos, pontas de cigarro entre outros, mas a água, essa, é indescritível. É inviável refrescar dentro de água em dias de extremo calor, a temperatura da água não o permite. Não sei se há peixes ou outros seres vivos estranhos e perigosos, tento não pensar nisso enquanto nado e sinto os corais por baixo de mim. Tenho a ilha de Ataúro em frente e nas minhas costas as montanhas que acabam na estrada da praia do Cristo Rei.

Não vos poderei dizer aqui o nome das pessoas que me acompanharam nestes episódios, mas a elas devo, com grande agradecimento, o bom início na minha esperada longa estadia por Timor.