Tuesday, January 15, 2008

Um Sábado em Dili!

Num ritmo e tempo diferente vivo os meus dias de trabalho e o meu ócio. Num país onde não há nada, mas onde há, na verdade, tudo, escolho o sítio onde vou tomar o pequeno-almoço num sábado de manhã. O sol espreita timidamente. Calmamente, no City Café, tomo o meu café timor, ultra amargo, e a torrada de pão caseiro. Tento ler trechos de um livro sobre a evolução do Homem. Mas a rua é mais apelativa e eu olho os timorense que passam e tentam vender pequenos nadas. Olho para a sua tez escura e feições asiáticas, as roupas andrajosas e os pés descalços ou calçados com velhos chinelos. Olham para nós com olhar que não sei decifrar. Os malae tentam ignorar, dizem não, voltam a cara, disfarçam, até que o timorense aborrecido mas resignado vira costas. Os passeios são amontoados de terra e lixo. E lá vão eles com os seus pequenos nadas. A mana Catarina chega hoje da sua viagem pela Indonésia, Tailandia, Cambodja e Malásia com muitas peripécias para contar. Vou apanhá-la ao aeroporto cheia de vontade de me reencontrar com ela. A manhã vai-se compondo e eu passeio de carro pela marginal até casa do Dudi para visitar o Óscar. Visito a Fernanda que está doente e embrenho-me numa longa conversa com os presentes na sala, até à inevitável hora da partida, já muito atrasada para estar a tempo no aeroporto. Conto com o habitual atraso da Merparti.
E ali, entre o sol e a chuva, no meio da multidão que espera quem chega, aguardo pela Catarina. O inevitável abraço apertado surge quando nos encontramos, assim como os muitos sorrisos e olhares de cumplicidade de quem tem tanto para contar.

2007... do que me lembro!

Chegado o novo ano faço como habitualmente uma revisão dos momentos que mais me marcaram. Assola-me à memória a morte da minha avó e da minha prima com todos os rituais inerentes ao momento.
Mas do que me lembro, do que me lembro...
Lembro-me de estar deitada num parque em Barcelona num fim de tarde soalheiro, a ouvir uma banda desconhecida enquanto as minhas pernas serviam de travesseiros ao José e ao Rodolfo. Lembro-me dos jantares de sexta-feira à noite no japonês com o Rui Lima em que nos riamos desalmadamente.
Lembro-me de estar deitada na minha prancha à espera da onda.
Lembro-me do nascimento do Francisco e da emoção da Rosana com o seu filho nos braços. Lembro-me dos mil abraços que dei à minha irmã e dos nossos pequenos almoços.
Lembro-me das caminhadas ao por do sol de mão dada com o José.
Lembro-me do chá das cinco com a Mafalda e com o Alexandre.
Lembro-me do meu último almoço em Lisboa e do adeus rápido da minha irmã no aeroporto. Lembro-me dos telefonemas de boa sorte.
Lembro-me da voz da minha mãe nos seu telefonemas diários.
Lembro-me das lágrimas do meu pai e lembro-me da boa sorte que me desejou minutos antes de eu ter entrado no avião.
Lembro-me do meu olhar desencantado quando cheguei à ilha, do cansaço e da pouca expectativa.
Lembro-me da noite em que conheci a mana Cata. Lembro-me do seu olhar perscrutador sobre mim, da sua voz calma e pausada.
Lembro-me do dia em que um homem entrou no business center e perguntou se alguém tinha visto o seu USB. Ele mesmo num primeiro jantar mandou vir uma lua cheia deliciosa e um mar aos nossos pés. E nos meses que se seguiram entre as risadas, as conversas, os jantares, a troca de livros e o silêncio enquanto se olhava a natureza vivemos felizes uma nova amizade num país em construção.