Sunday, November 18, 2007

Domingo, 18 de Novembro...

Hoje a minha mãe tem grande motivo para ficar feliz, fui de novo à missa. Não fui em sacrifício ou obrigação, mas sim com a imensa vontade de estar na casa de Deus e partilhar com a comunidade o ritual dominical. As portas laterais da igreja estão abertas, corre uma brisa, não obstante os diversos leques nas mãos das senhoras, e vê-se as palmeiras a acenar com o vento, canto emocionada e sinto um contentamento que há muito não sentia na casa Deus (como dizem os Cristãos). Tenho uma maior vontade de me aproximar de Deus à medida que aqui passo os meus dias, mas acredito que a muitos outros haverá a vontade de se afastarem . Não se pense que é por estar infeliz, porque eu sinto-me bem aqui. Consigo antever o quanto esta experiência me vai mudar. Algumas pessoas que vão cruzando o meu caminho são de uma riqueza tal que me sinto privilegiada. Só um tolo poderá deixar de viver a diversidade cultural que aqui se faz sentir. Só um tolo poderá menosprezar as experiências de quem aqui habita, seja Timorense ou Malae. Só um tolo poderá ser intolerante, por obvio medo, da diferença.
A semana foi intensa, a todos os níveis, profissional e pessoal. Bom o profissional é obviamente incontável.
Uma portuguesa que conheço, com quem já almocei e até vegetei numa pura tarde de ócio, entre outras pessoas que também estavam presentes, foi apedrejada a caminho de Baucau. O estado de saúde leva a que seja evacuada para Darwin. Este acontecimento não só nos deixa consternados pelo que aconteceu à rapariga mas também nos alerta para o que nos pode acontecer a cada um de nós. A notícia correu que nem rastilho, a informação é supersónica por estas bandas, fruto dum contacto muito próximo entre todas as pessoas/profissionais. O contacto com o g.o.e. e outras forças policiais e militares, que aqui estão em missão, faz com que estejamos sempre informados sobre os incidentes e alertas aos eventuais. Os acontecimentos de 2006 fizeram mossa na estabilização do país e segurança dos malae que são alvo de pedrada. O senhor Francisco (meu motorista, guia e tradutor) sempre alerta vai-me continuamente alertando para os sítios e horas a que posso e não ir e sair. Continua a dizer-me: -“Timor muito complicado!” –“senhora não pode sair a partir das sete” “- senhora não sai..” ! Hoje, sem o senhor Francisco vou até ao hotel para fazer o meu check out e tomar o meu último pequeno almoço de hotel, passo pelo campo de deslocados logo ao lado e lembrando-me do incidente com a rapariga sinto um desconforto. Não é medo, é desconforto porque sei que não há maneira de prever quando podemos ser alvo de uma pedrada, é o momentâneo momento de lucidez que me diz que não estou segura.
Depois temos os final de tarde por entre as montanhas e o mar, com o céu cor de rosa, a natureza animal de uma riqueza singular e o mar com o seu azul esverdeado que nos mostra onde começa e acaba o coral. Raios de sol batem nas montanhas, iluminado uma determinada encosta, enquanto do outro lado é já escuro.
O tempo não passou por aqui, tudo continua quase intacto, o homem vive na sua mais primitiva natureza e o seu dia é dedicado à sua sobrevivência mais básica. Olho para eles com os meus olhos ocidentais cheios de preconceitos relativos ao bem estar e felicidade. Momentaneamente pergunto-me se sou eu que sou feliz ou se na verdade serão eles. Que tanto procuramos nós e que tanto queremos, que o básico não nos satisfaz?
E continuo a minha corrida por entre caminhos íngremes das montanhas perto de Dili.
Finalmente mudei do hotel! Estou numa pequena casa, num aparthotel, fechado sobre si mesmo com uma piscina e jacuzzi ao centro. Os malae vivem bem. Mobilei a casa ao meu jeito, com móveis de design indonésio, para que me possa sentir em casa! Tais cobrem os sofás e os meus livros estão colocados num dos móveis que comprei. Sinto-me em paz dentro dela mas sinto grande falta do José, porque me parece estar em casa. Já tenho chá de jasmim para o chá das cinco e biscoitos de manteiga!